30 de junho de 2009

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porque li "A coreógrafa alemã Pina Bausch morreu hoje aos 68 anos. A autora de "Café Müller", a única peça sua que interpretou, soube há cinco dias que sofria de cancro." e lembrei-me do que disse a Professora Filipa Almeida no primeiro semestre sobre doentes seus que desistiam, o corpo acompanhava a mente na derrota e em pouco tempo morriam apesar das muitas hipóteses de sobrevivência.
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e imagino uma sala, talvez branca, das muitas salas de uma enorme casa abandonada. do tecto pendem sacos de plástico rotos cheios de água. estão seguros por fios com dimensões que variam consoante a pessoa.
vamos morrendo a cada gota que cai.
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há no entanto fios que por um qualquer motivo se desfazem e os respectivos sacos caem e toda a sua água se espalha pelo chão de madeira:
morreu.
a pessoa morreu.
desistiu e morreu.
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(fechamos os olhos, desligamos dos sons deste mundo e do silêncio começaremos a ouvir as gotas a cairem)

27 de junho de 2009

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(o marco são os dezoito. parece-me que se sobe até ao um, um pouco mais até ao oito e a partir deste é sempre a descer. amaldiçoemos o número oito)
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[gostava de te perguntar se estás bem mas não sei como o fazer. uma mensagem num balão ajudaria mas não sei se chega a ti, que longe estás apesar de por vezes te julgar no mesmo barco em que me encontro]
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e ouve-se Beatles. hoje ouve-se e canta-se Beatles (porque quem canta seus males espanta, já dizia a avó que hoje me ligará para dar os parabéns mas não me falará no homem da Lua, com que me assustava nos anos em que os números caminhavam solitários, e que ainda hoje imagino corcunda, velho, com suas roupas rotas em tons castanhos, mãos grandes e olhar plangente com que suplica à terra perdão)
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26 de junho de 2009

Chegando a casa depois de uma semana que me estranhei reparo no chio triste, no pai como sempre, na júlia mais bonita e na mãe cansada.

Salmão com cenoura que já não se comia desde o tempo das beterrabas (e do bife de cavalo porque era preciso ferro. e só uma vez nos falhou a referida ementa:

Horário preenchido com aula de apoio para o exame de físico-química. comíamos bolo da páscoa da professora (o tempo que perdemos, senhora e senhor (julgo-te mal penso eu, um dia conversaremos sobre isso)) nas escadas do terceiro andar e ouvíamos fórmulas e raciocínos da sala horas antes ocupada por alucinadas considerações filosóficas (segundo nos relatavam) de um professor respeitosamente chamado de banana por quem suspirava nos vãos das escadas e que um dia na casa da cultura de coimbra me detém para uma conversa de horas surpreendendo-me pela minha existência conhecer (estudasse eu em coimbra e passaria o tempo no cinema de que me falou),

liga-me o paizinho, ligo à Júlia. E fiz eu o jantar nessa semana. )


Falaram-se de políticas e politiquices. A mãe enervou-se, eu enervei-me por enervarem a mãe, o pai enervou-se por enervarem a mãe, a júlia enervou-se por enervarem a mãe (porque nem só com ferro se matam bichos (ora, mas longo ficaria este texto) mas no fim continuam a enervar a mãe e nem eu, nem o pai, nem a júlia o impedimos. O pai porque já tentou e não conseguiu, a júlia porque ainda não pensa em tentar e eu porque me preparo para reflectir sobre o tentar (porque tentar é difícil ainda para mais quando a probabilidade de falhar é grande).


A minha ovelha continua no mesmo local com o mesmo tom vermelho e a mesma expressão de macaco que me atraiu quando eu e fonseca vadiávamos sozinhas numa quarta feira à tarde pela coimbra que sempre desejámos nossa.
A planta que pedi continua meia verde meia murcha. segundo alguém entendido na matéria (apesar da tua miosotis ter morrido, desleixo meu é verdade (ceguez dos dois concluamos)) devo-lhe falar.
Os meus búzios continuam mortos, mas persisto ainda na teoria da geração espontânea de vida (olhai para o que tendes dentro. se não acreditardes que do vosso vazio do nada poderá um dia brotar vida, como vos manténs por aqui? não discordai).
O meu elefante, não roxo mas cinzento dos anos que já tem, continua com os mesmos olhos azuis que me observavam carinhosamente quando lhe falava e chorava na idade em que pensava que de noite os meus bonecos comentavam enquanto dormia os segredos que lhes contava.
Tudo continua.


(vinte e duas e quarente e cinco pelo relógio da avó. «mudar de vida» dos humanos.)

19 de junho de 2009

são 11: 39

começou o s. joão da terreola.

Patrick Watson versus Música Popular (um qualquer Manel Antunes ou Malhoa Micaela)

(calem-se (calem-se!))

(e fazem-se um, dois, três, não sei mais quantos anos de coisas

(que foram e não foram e não podiam ser e tinham que ser porque assim tinham de ser e têm de ser porque sim e porque não porque se fossem tudo e se não fossem nada e porque naquele momento tinha que ser e porque não se podia esperar porque assim somos todos (raios!) e porque sim porque Deus quis e porque se arrependeu mas já estávamos feitos e porque tentou voltar atrás e foi isto (olha o que fizeste Deus) porque há direcções e há a palavra diferentes (e quem és tu para definir a diferença?) e há quem nos empurre e há quem nos puxe e há quem nos deixa para trás e há quem volte para o que foi, há quem olhe para trás (nunca olhes para trás) e não olha mais para a frente, porque há quem inisiste e cria raízes em desertos (mas conseguem não conseguem? porque não tentas também?), porque há quem veja há quem não vê ha quem não quer ver há quem julga ver há quem julga não ver. porque sim, porque fui, não quero e quero ser porque já foi tanto mas ainda há tanto (quem te disse? quem disse para esperar, quem disse o que esperar e quem disse porque esperar?

corta-te em pedaços, tira um, coloca-o num dos teus cantos (vês o teu sotão do teu jardim? tem cantos que conhecem, cantos que só tu conheces, que só eles conhecem, cantos que ninguém conhece. coloca-o na caixinha da Maria Saudade e com cuidado arruma-os num dos cantos que é só teu, num que ainda não tenha nada. não o ilumines, não o alimentes, não o regues, não lhe fales nem lhe respires. deixa-o.

sei lá porque sim. não queres? então deixa. alguém quando o encontrar (e quem te disse?) alimentá-lo-á, regá-lo-á, falar-lhe-á.

e iluminar-te-á.

e finalmente respirarás.

(mas não confundas. não confundas sim? porque há os que não são e há o que é)

(porque quero ser mais, não mais que isto, quero ser mais de mim. preciso de ser mais de mim)


))))

[e raio de anatomia e mais quem gosta disto]

17 de junho de 2009

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está na altura de irmos à bruxa.
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15 de junho de 2009



saltemos saltemos saltemos saltemos



(e ultrapassemo-nos)

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11 de junho de 2009

no fundo rosa da rapariga loira que comentou a queda do rapaz que ia ter com a namorada
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Minds are like parachutes
They only function when they're open
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(um dia vou saltar com um paraquedas pregado nas costas, ele não vai abrir e descobrirei que afinal sempre sou capaz de voar.
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depois acordo e esqueço-me.
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quantos vezes já terei descoberto e depois esquecido que sou capaz de voar?
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quantas vezes e quantas coisas já teremos esquecido de que somos capazes?
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(na Radar fala-se Patrícia Cortela.)

10 de junho de 2009

uma mistura de uma viagem pelo coração
(pergunto se a Daniela se lembrará da viagem que fizemos provavelmente sozinhas pelo coração. preferia o nosso coração imperfeito mas ainda assim um inocente coração (nao me recordo se nos cruzámos entre tantas paredes a que agora dou nomes e que na altura eram simples armários onde vos guardava (e guardo, felizmente mais apertados))

e pelo La Science des Rêves a que ultimamente tenho regressado muitas vezes:

(meu marido será um Stephane
"Will you marry me when you are seventy? You'd have nothing to lose"

"P. S. R. Parallel Synchronized Randomness. An interesting brain rarity and our subject for today. Two people walk in opposite directions at the same time and then they make the same decision at the same time. Then they correct it, and then they correct it, and then they correct it, and then they correct it, and then they correct it. Basically, in a mathematical world these two little guys will stay looped for the end of time. The brain is the most complex thing in the universe and it's right behind the nose. "

(caro pintor do Jardim de São Lázaro
marco consigo um encontro prometido
amanhá um pouco mais tarde que o costume
visto ter de deslocar o (meu) mundo da sua órbita
para estar finalmente liberta da atracção (repulsão) da terra.

(parto agora

ansiava um dia sair de casa, quando todos estivessem a dormir, roupa dentro de uma mochila e o dinheiro até aí poupado, correr até à estação (medo do escuro e de nos desencontrarmos) e entrar no primeiro comboio. no comboio de pessoas que temem a escuridão e o frio do outro lado dos vidros e mais ainda temem que de quem fogem as encontre ou que quem procuram não encontrem.

parto agora quando todos dormem
e amanhã nos encontramos.


P.S.R.
ate amanhã)

)))

5 de junho de 2009

o chá de limão foi capaz de derreter o gelo que se acumulou nos últimos dias.

Chá de Limão.

todos os dias serem chá de limão.

(porque nesses dias não se plantam árvores cujas raízes descem em profundidade para amarrarem o que não deve aflorar).