falaríamos dos meus botões
da mancha vermelha no meu terceiro dedo da minha mão direita (aquela com que ainda não te escrevi nenhuma carta)
falaríamos do céu lilás e das suas nuvens verdes (escolhe tu as cores, eu pinto-as)
de como agora são 19h:19 e acreditas, como eu e mais ninguém, que realmente alguém pensa em nós
falaríamos do filme que vi ontem sozinha sonhando estar num cinema vazio
no baloiço imóvel que espera por alguém ao fundo da rua, onde nos cruzámos numa noite em que o sol invejava a lua (e a chuva)
falaríamos dos mapas dos teus mundos
do perfume da rapariga que passou por nós, do bom dia respondido, do cachecol do suposto artista, do andar da velhota
falaríamos das bolhas da água ou da forma do malmequer (um dia conto-te um segredo)
do rio de algodão (escolhe a cor, eu pinto) escondido da cidade cinzenta onde ninguém se encontra
falaríamos mal do mundo, amaldiçoaríamos os felizes
(não percebem estarem tão vazios como nós)
sussuraríamos nas sombras da minha rua
sobre a tua alma que não conheço.
10 de fevereiro de 2009
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