Chegando a casa depois de uma semana que me estranhei reparo no chio triste, no pai como sempre, na júlia mais bonita e na mãe cansada.
Salmão com cenoura que já não se comia desde o tempo das beterrabas (e do bife de cavalo porque era preciso ferro. e só uma vez nos falhou a referida ementa:
Horário preenchido com aula de apoio para o exame de físico-química. comíamos bolo da páscoa da professora (o tempo que perdemos, senhora e senhor (julgo-te mal penso eu, um dia conversaremos sobre isso)) nas escadas do terceiro andar e ouvíamos fórmulas e raciocínos da sala horas antes ocupada por alucinadas considerações filosóficas (segundo nos relatavam) de um professor respeitosamente chamado de banana por quem suspirava nos vãos das escadas e que um dia na casa da cultura de coimbra me detém para uma conversa de horas surpreendendo-me pela minha existência conhecer (estudasse eu em coimbra e passaria o tempo no cinema de que me falou),
liga-me o paizinho, ligo à Júlia. E fiz eu o jantar nessa semana. )
Falaram-se de políticas e politiquices. A mãe enervou-se, eu enervei-me por enervarem a mãe, o pai enervou-se por enervarem a mãe, a júlia enervou-se por enervarem a mãe (porque nem só com ferro se matam bichos (ora, mas longo ficaria este texto) mas no fim continuam a enervar a mãe e nem eu, nem o pai, nem a júlia o impedimos. O pai porque já tentou e não conseguiu, a júlia porque ainda não pensa em tentar e eu porque me preparo para reflectir sobre o tentar (porque tentar é difícil ainda para mais quando a probabilidade de falhar é grande).
A minha ovelha continua no mesmo local com o mesmo tom vermelho e a mesma expressão de macaco que me atraiu quando eu e fonseca vadiávamos sozinhas numa quarta feira à tarde pela coimbra que sempre desejámos nossa.
A planta que pedi continua meia verde meia murcha. segundo alguém entendido na matéria (apesar da tua miosotis ter morrido, desleixo meu é verdade (ceguez dos dois concluamos)) devo-lhe falar.
Os meus búzios continuam mortos, mas persisto ainda na teoria da geração espontânea de vida (olhai para o que tendes dentro. se não acreditardes que do vosso vazio do nada poderá um dia brotar vida, como vos manténs por aqui? não discordai).
O meu elefante, não roxo mas cinzento dos anos que já tem, continua com os mesmos olhos azuis que me observavam carinhosamente quando lhe falava e chorava na idade em que pensava que de noite os meus bonecos comentavam enquanto dormia os segredos que lhes contava.
Tudo continua.
(vinte e duas e quarente e cinco pelo relógio da avó. «mudar de vida» dos humanos.)
Salmão com cenoura que já não se comia desde o tempo das beterrabas (e do bife de cavalo porque era preciso ferro. e só uma vez nos falhou a referida ementa:
Horário preenchido com aula de apoio para o exame de físico-química. comíamos bolo da páscoa da professora (o tempo que perdemos, senhora e senhor (julgo-te mal penso eu, um dia conversaremos sobre isso)) nas escadas do terceiro andar e ouvíamos fórmulas e raciocínos da sala horas antes ocupada por alucinadas considerações filosóficas (segundo nos relatavam) de um professor respeitosamente chamado de banana por quem suspirava nos vãos das escadas e que um dia na casa da cultura de coimbra me detém para uma conversa de horas surpreendendo-me pela minha existência conhecer (estudasse eu em coimbra e passaria o tempo no cinema de que me falou),
liga-me o paizinho, ligo à Júlia. E fiz eu o jantar nessa semana. )
Falaram-se de políticas e politiquices. A mãe enervou-se, eu enervei-me por enervarem a mãe, o pai enervou-se por enervarem a mãe, a júlia enervou-se por enervarem a mãe (porque nem só com ferro se matam bichos (ora, mas longo ficaria este texto) mas no fim continuam a enervar a mãe e nem eu, nem o pai, nem a júlia o impedimos. O pai porque já tentou e não conseguiu, a júlia porque ainda não pensa em tentar e eu porque me preparo para reflectir sobre o tentar (porque tentar é difícil ainda para mais quando a probabilidade de falhar é grande).
A minha ovelha continua no mesmo local com o mesmo tom vermelho e a mesma expressão de macaco que me atraiu quando eu e fonseca vadiávamos sozinhas numa quarta feira à tarde pela coimbra que sempre desejámos nossa.
A planta que pedi continua meia verde meia murcha. segundo alguém entendido na matéria (apesar da tua miosotis ter morrido, desleixo meu é verdade (ceguez dos dois concluamos)) devo-lhe falar.
Os meus búzios continuam mortos, mas persisto ainda na teoria da geração espontânea de vida (olhai para o que tendes dentro. se não acreditardes que do vosso vazio do nada poderá um dia brotar vida, como vos manténs por aqui? não discordai).
O meu elefante, não roxo mas cinzento dos anos que já tem, continua com os mesmos olhos azuis que me observavam carinhosamente quando lhe falava e chorava na idade em que pensava que de noite os meus bonecos comentavam enquanto dormia os segredos que lhes contava.
Tudo continua.
(vinte e duas e quarente e cinco pelo relógio da avó. «mudar de vida» dos humanos.)
3 comentários:
bonito, bonito, bebé meu :)
A tão avidamente defendida por si beleza do regresso a casa.
acabei de me apaixonar pela tua forma de escrever.
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