15 de janeiro de 2012

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Percebi, agora já com alguma distãncia, penso que finalmente te percebi.

Já me tinhas mostrado como iria ser quando numa noite te contei uma feia parte de mim. Penso que depois nunca mais te falei no assunto, "a situação com o meu pai" sempre uma referência e não uma conversa, não vás tu assustar-te outra vez.

Duas tentativas. Um mês a ir para aquele sítio. As cartas. A casa a desmoronar-se. Até as pequenas coisas deixaram de fazer sentido.

Manter-me em pé perante ela, perante eles Fazer as cadeiras e manter-me mentalmente sã, estável, equilibrada, serena perante vocês.
Não consegui, tinha que falhar em algum ponto, tinha que explodir para algum lado, algo teria que quebrar.
Foi com vocês. Percebi e pedi-vos desculpa.
Ela compreendeu, perdoou e ficou. Tu, enfim.

Diz-me meu querido como é possível passar pelas "situações" inabalavelmente? Inquebrável? Razoável? Os meus pilares por momentos desapareceram, tudo ruiu. Como esperavas que ficasse igual?

Talvez as férias tenham sido o pior momento: sem a rotina da faculdade, enfiada em casa, sem a cabeça ocupada pelos exames, sem ti. O pensamento começa a fugir ao meu controlo, mais do que antes. As inseguranças (agora maiores do que nunca), os medos, as paranóias, tudo aflorou à superfície.
Foi assim que lidei, não foi a forma correcta nem a incorrecta. Não há forma "normal" para de conviver com o assunto.
E fizeste-me sentir tão mal, a culpada. A lunática, a descompensada, a insegura, a louca. Uma parte de mim tinha de ceder.

E lá foste. Já me tinhas mostrado, formas subtis as tuas, que não ias ficar muito tempo, que estava a ser demasiado para ti. Umas frases aqui, uns gestos ali, eu lá ia reparando, mas sempre insegurança minha, assim o justificavas. Aumentaste-a, se tivesses sido sincero desde o início "Querida, sejamos razoáveis, acha mesmo que vou esperar até que se recomponha? A menina não está lá muito bem mas isso não tem que ser um problema meu, tem?". 

Mal pudeste, saltaste do barco. Demais para ti. Há limites, claro.

Deste-me a entender como és: não falas, reages para dentro. Suponho que para isto resultar também eu deveria ser assim, devia guardar para mim, interiorizar, implodir. Partilhar contigo e receber até certo ponto, a partir daí já é demais.

Percebo agora o que falhou. Encontrei finalmente o porque. Posso deixar de me culpar, cortar finalmente as amarras que até há bem pouco mantia (agora seria depois de terapêutica).
Entendo que acabou, só agora o admito. Por mais cativante que tenhas parecido, o sentimento de abandono na altura que mais precisava é repulsivo.

Foi este o motivo que te pedi: saltaste do barco quando começou a entrar água. Tu, o que supostamente devia ter ficado comigo, foi o que abalou.



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