27 de março de 2011

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começaríamos por voltar a quatro semanas atrás: época de exames e amesterdão passados, retomar a rotina, as aulas, o laboratório, as festas, os filmes e passeios, as conversas no salão sobre a vida dos outros pouco sabendo sobre a nossa.

reparei apenas numa certa irritação, nada de mais. talvez a audição ou a prova de formação.

lembro que na segunda estava mais angustiada, sem paciência para o habitual. fecho-me no quarto à espera que o dia seguinte chegue, recebo a chamada, fico à espera de outras chamadas, resolvo ir lá e voltar no mesmo dia -  nada de grave, o nervosismo a que nos vem habituando.

Chego, oiço, o chão treme, começam a abrir-se fendas, o som horrível da terra a revolver-se.

Primeiro ouves, depois acreditas, depois percebes. Não, não. volta atrás, ouve o que te dizem primeiro, foca-te no que te estão dizer [tanto ruído, os miúdos a berrar, as enfermeiras, os comprimidos, a médica, a minha mãe, as velhas, o meu pai, as cartas, o chão que não pára de ranger]. ouviste o que te disseram? houve agora os pormenores, delicia-os.


Passa-lhe a mão no cabelo, diz-lhe o quanto gostas dela, beija-lhe a face, promete-lhe que vai tudo ser melhor.

Vais a casa buscar as coisas dela. mexes-lhe na roupa, nos perfumes, nos desenhos, nos livros, nas suas intermináveis caixas - não a sabias assim.

as chaves sempre a trancar as portas, as janelas tapadas, os bêbados nojentos, os cinco minutos em que te perguntam se estás bem, as anoréticas, as duas semanas que já vão em quatro, o diagnóstico que não chega, sabem lá eles o que te dizem.


sei lá eu o que te digo, sei lá eu o que te dizer, estou-me a esgotar nos argumentos.

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